No ano em que se comemora o Centenário das Aparições, a Junta de Freguesia de Fátima pretendeu lembrar e homenagear as gentes desta terra serrana. António das Neves Martins, a convite da autarquia local, materializou esse tributo sob a forma de livro, onde se entrelaçam poemas, episódios narrativos e ilustrações originais sob um título que exprime claramente o conteúdo: Figuras e Charlas d´Aire.
O lançamento da obra, editada sob a chancela da Alma Lusa, teve lugar na noite de sexta-feira, 3 de novembro, n´O Truão, em Boleiros, localidade da freguesia de Fátima de onde o autor é natural. O momento foi largamente participado, cumprindo-se deste modo o desejo do autor: o de juntar um “rol de amigos” para uma noite de convívio na qual também imperasse a música, tocada e cantada por artistas locais.
“Todos estamos conscientes das enormes alterações que o último século trouxe à nossa terra, somos depositários do fenómeno religioso que mudou a face de Fátima e de Portugal com a sua mensagem de Paz, e temos orgulho nisso. Mas urge igualmente preservar e difundir a outra dimensão da alma serrana que nos formou. É comum afirmar-se que devemos conhecer de onde vimos se queremos saber para onde vamos”, afirmou, na saudação inicial, o presidente da Junta de Freguesia de Fátima, Humberto Silva.
A importância da preservação “da alma fatimense” foi também referida por Tomé Vieira, membro do órgão executivo local que assina o prefácio: “Era importante deixar um registo escrito, em forma de homenagem, daquilo que a nossa freguesia tem de mais genuíno, resquício de uma ancestralidade muito própria”. Era fundamental, destacou, a afirmação e o elogio dos “valores que sustentam o nosso percurso civilizacional”: “a família, a solidariedade, o labor, o altruísmo e a espiritualidade”. O autor é descrito como um “Mestre”, um “Humanista”, um “Homem Sábio”, “com um amor incondicional às suas gentes”.
A apresentação propriamente dita de Figuras e Charlas d´Aire, que António das Neves Martins assina com o pseudónimo de Frondera Deslandes, foi feita por José das Neves Martins, irmão do autor e responsável pela Biblioteca Pública de Fátima.
“Sobressai o texto bastante burilado, trabalhado, como é apanágio dele”, referiu José das Neves Martins, que vincou a dificuldade na escrita e na análise de narrativas em forma de charlas, pequenas histórias, muitas vezes historietas que se vão materializando no anedotário popular.
Ressalta na obra, segundo o irmão do autor, “uma empatia profunda pelas alcunhas”, “uma sensibilidade enorme”, “o amor às pessoas da terra, a esta terra que nos viu nascer”. Destaca-se o retrato das pessoas que “viviam felizes com aquilo que tinham” e a “labuta infernal do dia-a-dia”, numa Fátima caracterizada pela “secura serrana” e “onde as coisas não caem do Céu, é preciso conquistá-las a pouco e pouco”. Na escrita do irmão, José das Neves Martins encontrou igualmente lágrimas: “Às vezes parece que vemos o texto chorar por aqueles que já cá não estão”. “Tocou-me profundamente”, concluiu.
A fechar o momento de apresentação do livro, mas não a fechar a noite, porque ela se prolongaria com música, dança e amena “cavaqueira”, António das Neves Martins agradeceu a presença de todos, que eram muitos, e descreveu-se a si e à sua obra desta forma: “Narrador despenteado. Em Aire. Num tempo vário. O Povo. Do estilo dirá quem ler. Ideologia, muito menos que nenhuma. Ação, de coisas simples, aberta… para a Eternidade!...”.
A apresentação de Figuras e Charlas d´Aire terminaria com a declamação e leitura de alguns dos poemas e charlas publicados. Aconteceria aquilo que Tomé Vieira havia preanunciado: “Somos guiados até à roda de amigos, onde nos integramos imediatamente e rimos… rimos até descobrirmos que afinal temos abdominais”.
Figuras e Charlas d’Aire será ainda apresentado durante o II Tábula Rasa, festival literário de Fátima que se realiza nesta cidade de 15 a 18 de Novembro, e na Biblioteca Camões, em Lisboa, na tarde de 25 de novembro.
6 de novembro de 2017
(Autoria da Fotografia: JFFátima)