Os XII Workshops Internacionais de Turismo Religioso (IWRT, na sigla em inglês), com sessão inaugural realizada na manhã de 6 de março, no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima, voltaram a enfatizar o valor económico, social e cultural do Turismo Religioso no contexto mais amplo do setor do Turismo.
Este evento profissional especializado, na 12ª edição, contou mais de quinhentas pessoas na sessão inaugural, das quais metade eram operadores internacionais e empresários fornecedores de produtos e serviços dos vários segmentos do turismo religioso*.
Após dois dias em Fátima, a 6 e 7 de março, os IWRT prosseguem este fim de semana na Guarda com enfoque mais vincado no Turismo de Tradição Judaica. Estão a ter lugar visitas post-tour, nomeadamente as tours «Visit Ourém», «Médio Tejo» e «Lisboa». Alguns operadores que se mantém em Portugal participarão na BTL 2025, em Lisboa.
Sessão inaugural
A sessão inaugural dos IWRT iniciou com intervenções de líderes institucionais e religiosos.
O padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, referiu que a instituição tem “a consciência que a escolha de Fátima para a realização deste workshop se deve ao reconhecimento de Fátima como o mais importante destino turístico religioso português, mas também reconhecemos que a promoção desta iniciativa tem ajudado a promover este destino”.
Purificação Reis, presidente da ACISO, entidade organizadora do evento em parceria com as autarquias municipais de Ourém e da Guarda, disse que o(s) IWRT “tem sido muito mais do que um evento, tem sido um acelerador de oportunidades, um espaço onde se criam parcerias, se partilham boas práticas e se discutem os desafios e tendências do Turismo Religioso”.
Terminou as suas palavras de acolhimento com uma mensagem de esperança e gratidão: “Esperança porque acreditamos que o Turismo Religioso continuará a crescer. Gratidão porque este evento só é possível graças ao esforço e participação de todos”.
Jorge Sampaio, presidente da Agência Regional de Promoção Turística Centro de Portugal, felicitou a Organização dos IWRT, “pela coragem de abordar o tema da religião pelo lado do Turismo” e sugeriu uma maior articulação entre as diferentes estruturas oficiais do Turismo em Portugal para um trabalho conjunto de conceptualização promoção e qualificação do produto Turismo Religioso, “um produto de enorme importância para aquilo que é a internacionalização da marca de Portugal e, permitam-me, da marca Centro de Portugal”.
Anabela Freitas, vice-presidente da Entidade Turismo Centro de Portugal, lembrou que região Centro de Portugal “cresceu acima da média nacional em termos de número de turistas e de dormidas” e realçou que os IWRT cumprem duas das condições necessárias para o desenvolvimento do turismo: “recursos e operação”.
Jorge Brandão, vogal da Comissão Diretiva do Programa Regional do Centro, sublinhou que “Fátima é para a região um ativo estratégico, ao nível local para o município de Ourém, para a Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, e a nível nacional”. Lembrou que a União Europeia tem aberta uma consulta pública a todos os cidadãos, empresas e organizações europeus para que todos “possam participar naquilo que queremos que seja a União Europeia no período pós 2028”.
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), e Luís Albuquerque, presidente da Câmara Municipal de Ourém, reforçaram a ideia da importância estratégica do Turismo Religioso na economia.
“Em Portugal não há turismo a mais, mas sim economia a menos, o que devemos sublinhar é que todos devemos contar com o turismo, que continua a ser o sector que o país precisa para crescer”, disse Francisco Calheiros, antecipando 2025 em termos de atividade turística como “um ano igual ou ainda melhor que o de 2024”, em que “o mercado interno continuará a ter bons indicadores e o número de turistas estrangeiros continuará a crescer”.
Em nome do Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, Lídia Monteiro, vogal do Conselho Diretivo do Turismo de Portugal, felicitou pela realização dos IWRT, uma iniciativa que “marca a agenda internacional no que diz respeito ao Turismo Religioso”, e lembrou “a expressão do Turismo Religioso em todo o país”. “A notoriedade de Fátima dá visibilidade e acrescenta valor ao Turismo Nacional e mostra cada vez mais o nosso país lá fora”, disse fazendo votos “de uma jornada produtiva para as empresas nacionais e internacionais participantes” no certame.
Luís Albuquerque, presidente do Município de Ourém e também na qualidade de vice presidente da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, referiu alguns dos desafios para o sector do Turismo, entre outros, “qualificar o turismo, aumentar a taxa de permanência e o gasto médio por turista”. Dentro do sector do Turismo, o Turismo Religioso, disse, “impulsiona a cultura, a história e o património de toda a região, assim como também a gastronomia, a natureza e todos os produtos endógenos de cada território”.
Portugal mostra-se aos participantes dos IWRT 2025, de 48 países - «Visit Portugal»
A inclusão de Portugal como Destino Convidado nesta 12ª edição dos IWRT permitiu mostrar as potencialidades do país anfitrião dos IWRT aos seus participantes. Em 30 minutos, com um percurso do Norte ao Sul de Portugal, sem esquecer as ilhas, Lídia Monteiro, em representação do Turismo de Portugal, destacou o património histórico, cultural e espiritual de Portugal, um país que caracterizou como “lugar de encontro de culturas”, “universalista”, com “clima apetecível”, “localização geoestratégica”, “seguro”, “talentoso” e na “segunda posição mundial como país acolhedor de eventos”, além de diversificado em termos de propostas turísticas.
Turismo Religioso como caminho para a Paz e Fraternidade Humana
Os XII Workshops Internacionais de Turismo Religioso integraram na manhã inaugural a conferência inter-religiosa "Turismo Religioso como Caminho de Paz e Fraternidade Humana". O painel reuniu representantes de várias tradições religiosas.
O evento foi moderado por Fabrizio Boscaglia, docente da Universidade Lusófona e do Turismo de Portugal, que começou por pedir aos oradores que a conferência fosse vivida, atendendo ao tema, “como uma experiência, autêntica e transformadora”.
Como oradores estiveram Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima (Igreja Católica), Isaac Assor, ex-vice-presidente da Comunidade Judaica de Lisboa e diretor geral da Alegretur é operador especializado em Turismo Religioso e da Herança Judaica; Shiv Kumar Singh, presidente da Associação Casa da Índia (Hinduísmo), Sandra Reis, presidente da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal (Igreja Presbiteriana) e Khalid Jamal, Administrador da Fundação Islâmica de Palmela (Islão). Por motivos de saúde, não participou nesta conferência o representante convidado do Budismo, Paulo Borges.
Do painel convergiu a ideia unanime de que o Turismo Religioso, para além da sua dimensão espiritual e cultural, pode ser uma ferramenta poderosa para a construção da paz.
Carlos Cabecinhas sublinhou que o acolhimento dos peregrinos deve ser um compromisso permanente. “O encontro de crentes de diferentes religiões e o mútuo conhecimento, que o turismo proporciona, ensinam a respeitar o específico de cada um, sem sincretismos nem proselitismos”, disse, ao manifestar a sua “convicção profunda” de que “o turismo religioso pode ser efetivamente caminho para a construção da paz e meio para fomentar uma efetiva fraternidade humana”, e que é isso mesmo que muitos turistas e peregrinos “experimentam” em Fátima.
Shiv Kumar Singh comentou que “quando viajamos estamos sempre a aprender novas coisas” e vincou a importância da aceitação e respeito pela “diversidade”. “O que é importante [para os hindus] são os valores de fraternidade, paz, aceitação do outros, e a ideia de que o mundo todo é uma família”.
Isaac Assor reforçou a ideia de que o turismo religioso é um veículo de paz” e que no Judaísmo é muito importante a prática da hospitalidade, onde “a experiência de ser um estrangeiro ou um viajante deve gerar empatia e compaixão nos fiéis”. Lembrou ainda o Papa Francisco, “pessoa da maior importância no diálogo inter religioso”.
Sandra Reis defendeu que o turismo religioso pode ser “uma oportunidade para o diálogo inter religioso e cultural” e propôs: “É preciso incluir itinerários que promovam o diálogo inter-religioso, criar momentos de partilha, e escuta, e incentivar práticas de hospitalidade inter religiosa”, isto porque “o património religioso ganha vida quando se torna lugar de partilha e não apenas de contemplação”.
Já Khalid Jamal comentou “Não sei por que razão, nós, enquanto sociedade, compartimentamos estas duas questões, ou seja, quando olhamos para o turismo só olhamos para os hotéis, para as praias, puramente recreativo, e não olhamos para o lado turístico importante que os templos e essa vivência religiosa pode ter. O fenómeno de Fátima é um bom exemplo, a Arábia Saudita, as peregrinações”, disse.
O que são os IWRT?
Os IWRT são um evento focado no Turismo Religioso que reúne profissionais do setor para estabelecerem contatos e oportunidades de negócio.
Os IWRT são organizados pela ACISO – Associação Empresarial Ourém - Fátima, contando com a colaboração do Município de Ourém e do Santuário de Fátima e o apoio de um vasto conjunto de entidades públicas e privadas do setor do Turismo. Junta-se a intervenção do Município da Guarda na organização do Workshop de Turismo de Herança Judaica na Guarda. Esta edição o sponsor principal foi a TAP.
* Em Fátima, o evento internacional contou com a presença de 130 vendedores (suppliers) e 122 compradores internacionais (buyers), representantes de 48 países, que realizaram mais de 4.500 reuniões de contactos de negócio, na tarde de 6 de março e no do dia 7. O espaço dedicado à exposição contou com a presença de 41 expositores. Na Guarda 47 suppliers e 42 buyers participam na Bolsa de Contactos, para mais de 500 reuniões agendadas.
Ourém/Fátima, 8 de março de 2024
Fotografia: IWRT / ACISO